Quinta-feira, 1 de julho de 2021, marcou o 100º aniversário da fundação do Partido Comunista Chinês. O partido se refez várias vezes, desde o abandono dos modelos soviéticos até sua ênfase contemporânea no Nacionalismo. Entretanto, a sua determinação Leninista de ser o único poder na China nunca mudou.
Fundação do Partido (1921)
O movimento anti-imperialista, cultural e político, conhecido como Movimento do Quarto de Maio, foi o responsável pelo crescimento das manifestações culturais em Pequim e trouxe para o público nacionalista a inevitabilidade da política. Por consequência, estudantes passaram a criar jornais e uniões de estudo para discutir ideologias tão variadas como o anarquismo, o liberalismo, o marxismo, o socialismo de estado, o socialismo de guilda, o constitucionalismo, e as teorias educacionais de John Dewey, para descobrir como salvar a China que estava fortemente impactada pela fraca resposta do governo chinês em relação ao Tratado de Versalhes e a permissão dada ao Japão para manter territórios em Shandong
Entretanto, o ponto crucial para a fundação do partido foi a chegada, em abril de 1920, de um grupo de russos em Pequim liderados por Grigori Voitinsky. Então, Voitinsky fez contato com Li Dazhao, um intelectual da universidade de Pequim, que foi responsável pelo contato entre Voitinsky e Chen Duxiu em Xangai, onde ambos foram responsáveis por criar uma Liga de Juventude Socialista e uma escola de línguas estrangeiras para convidar jovens promissores para treinamento político na Rússia. (2)
O 1º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, responsável por estabelecer o Partido Comunista Chinês, foi realizado em Xangai e Jiaxing entre 23 de julho e 2 de agosto de 1921. O congresso começou em um edifício shikumen da área de concessão francesa de Xangai. Na época, havia cerca de 50 membros (1) do Partido Comunista Chinês e surpreendentemente, os dois fundadores do partido não compareceram ao congresso: Chen Duxiu e Li Dazhao.
Primeira parte da Guerra Civil Chinesa (1927-1937)
A Guerra Civil na China de 1927 a 1949, foi o resultado da queda do sistema monárquico em 1912 que desestruturou o governo e instaurou caos no país, consequentemente, senhores feudais e militares responsáveis por controlar regiões específicas na China passaram a competir pelo poder. Ademais, a falta de estrutura governamental causou severos problemas econômicos na China, aumentando ainda mais a angústia e o estado de fragilidade do povo.
Enquanto o Dr. Sun Yat-sen, uma figura essencial na queda do governo imperial, fundador do partido político Kuomintang, se esforçou para encontrar uma solução para este problema crescente, ele não tinha o poder militar para apoiar qualquer um de seus planos. Após sua morte, um de seus seguidores e chefe da Academia Militar de Whampoa, o General Chiang Kai-shek, decidiu continuar realizando seus planos para instituir o nacionalismo na China. Entretanto, Chiang encontrou um crescente desafio aos seus planos, pois um partido político opositor começou a ganhar popularidade na China: o comunismo. Chiang que havia testemunhado uma forma de governo comunista quando ele tinha treinado na União Soviética e não concordou com isso, e tornou sua missão mantê-lo fora da China.
Entretanto, enquanto os dois poderes políticos estavam lutando para controlar o país, a invasão japonesa se dava inicio. Os ataques se iniciaram em 1931, na Manchúria, porém eclodiram em um severo conflito em 1937 ao sofrerem uma tripla invasão japonesa. Em julho de 1937, o Japão tinha invadido Pequim, e embora as forças nacionalistas de Chiang Kai-shek tenham fortemente resistido, eventos como o ataque japonês em Xangai em agosto de 1937 tiveram um grande impacto, forçando o KMT a abandonar a cidade.
Em dezembro, a capital nacionalista chinesa de Nanquim caiu nas mãos do Japão e a população sofreu massacres e ataques brutais. No que se tornaria conhecido como o Massacre de Nanquim, onde milhares de soldados e civis foram mortos, com inúmeros índices de estupros.
A guerra não só significou a perda de milhões de vidas chinesas, mas também abriu a porta para o crescimento do comunismo na China. As áreas-alvo para a invasão japonesa foram as regiões costeiras, incluindo Nanquim. Isso significava que não só foi um tremendo influxo houve um imenso deslocamento de pessoas fugindo para o interior da China, em Yenan, onde residiam grande parte dos membros e a base do partido comunista, mas também uma das causas do por que os comunistas foram capazes de tomar o poder tão facilmente. Outros pesquisadores afirmam que o motivo pelo crescimento do partido comunista foi a perda de confiança no Kuomintang (KMT), devido ao foco de Chiang Kai-shek em resolver os conflitos internos ao invés dos ataques japoneses. (3)
Em dezembro de 1936, os generais Zhang Xueliang e Yang Hucheng, ambos membros do Kuomintang, foram responsáveis pelo sequestro de Chiang Kai-shek e o ordenamento da assinatura de uma trégua com os comunistas, tal episódio ficou conhecido como incidente de Xi’an, onde ambas as partes concordaram em suspender as hostilidades e formar uma Segunda Frente Unida contra os japoneses.
Segunda parte da Guerra Civil Chinesa (1946-1949)
A segunda guerra mundial também foi responsável por uma série de novos problemas sociais e econômicos para a China. Primeiramente, os chineses gastaram mais de um milhão de dólares nos custos da guerra em 1945, causando um aumento dramático da inflação. Ademais, o povo chinês também estava fisicamente e emocionalmente exausto no final da guerra. As população e forças militares não só ainda estavam se recuperando dos efeitos dos invasores estrangeiros, mas também da constante disputa interna que regia entre o KMT e o PCC antes mesmo do início da Segunda Guerra mundial. (4)
Em 1945, os líderes dos partidos nacionalista e comunista, Chiang Kai-shek e Mao Zedong, reuniram-se para uma série de conversações sobre a formação de um governo pós-segunda guerra mundial. Ambos concordaram sobre a importância da democracia, um exército unificado e igualdade para todos os partidos políticos chineses. Porém, anos de desconfiança entre os dois lados frustraram os esforços para formar um governo de coalizão e desencadearam um conflito civil. (5)
Com o crescimento da guerra civil de 1947 a 1949, o partido comunista caminhava cada vez mais perto da vitória, apesar de não possuírem o controle de grandes cidades após o fim da Segunda Guerra Mundial, eles tinham grande e forte apoio popular considerando que Chiang passou a ser visto como um líder corrupto devido a anos de corrupção e má gestão que erodiram o apoio popular ao Governo Nacionalista, assim como o grande arsenal que foi apreendido dos japoneses na região da Manchúria, (6) Graças a tal perda de poder, no início de 1947, o governo da República da China já olhava para a província insular de Taiwan, como um ponto potencial de retirada.(7)
Nenhum tratado de paz ou armistício foi assinado entre os dois lados da Guerra Civil Chinesa. Em 1949, Chiang fugiu para a ilha de Taiwan e estabeleceu um governo rival, declarando Taipé como a capital da República da China. (8)
Em conclusão, há muitos fatores que explicam por que Chiang Kai-shek perdeu o controle da China. O principal fator foi a invasão japonesa da China a partir de 1937, e a partir disso, resultaram muitos fatores adicionais, como uma economia pobre, aumento da inflação e diminuição da confiança em seu líder entre o povo chinês.
Estabelecimento da República Popular da China (1949)
Depois de ser derrotado em três grandes batalhas pelo exército comunista, Chiang Kai-shek e o KMT se renderam e moveram a República da China para Taiwan, e em 1 de outubro de 1949, o líder comunista chinês Mao Zedong declarou a criação da República Popular da China. O anúncio terminou a guerra civil de grande escala entre o Partido Comunista Chinês (PCC) e o Partido Nacionalista, ou Kuomintang (KMT).
O Grande Salto para frente (1958)
Assim, O Grande Salto Adiante foi anunciado na segunda sessão do Oitavo Congresso do Partido (maio de 1958), que se concentrou tanto em slogans políticos quanto em objetivos específicos. As principais mudanças que ocorreram na vida do povo rural chinês incluíram a introdução incremental da coletivização agrícola obrigatória e a agricultura privada foi proibida.
Mao acreditava que a partir dessas mudanças organizacionais radicais, combinadas com técnicas adequadas da mobilização política, a área rural chinesa poderia fornecer recursos tanto para o seu próprio desenvolvimento quanto para o desenvolvimento contínuo do setor industrial pesado nas cidades. (9)
A colheita de outono de 1958 não gerou o resultado esperado, assim, em fevereiro e março de 1959 Mao Tsé-Tung começou o início de ajustes para tornar as políticas mais realistas sem abandonar o Grande Salto como um todo. Mao emergiu como um dos defensores mais fortes da redução do Grande Salto, a fim de evitar um potencial desastre. Ele enfrentou resistência substancial dos líderes provinciais do PCC, cujos poderes tinham sido expandidos. Além disso, na Campanha das Quatro Pragas, os cidadãos foram chamados a destruir os pardais e outras aves selvagens que comiam as sementes das colheitas, a fim de proteger os campos. Essa campanha fracassou e resultou no aumento da população de insetos, o que impactou negativamente a produção agrícola. Ambos foram fatores contribuintes para o início de uma era de fome na China.
Reforma e abertura (1979)
Realizada em dezembro de 1978, a Terceira Sessão Plenária do décimo primeiro comitê central do Partido Comunista Chines, foi liderada por Deng Xiaoping, uma figura de liderança que havia emergido após a morte de Mao Tsé-Tung. Assim, a sessão foi responsável por inaugurar um novo capítulo de reforma e abertura e modernização socialista na China conhecido como, a Reforma e abertura. O rápido desenvolvimento socioeconômico que se seguiu deu um vigoroso impulso para a redução da pobreza, e resultou em um declínio acentuado na população empobrecida pois Deng Xiaoping decidiu abandonar a economia centralmente planificada para uma baseada em reformas orientadas para o mercado, abrindo a china através de investimentos estrangeiros.
No início da década de 1990, houve progressos visíveis na redução da pobreza nas zonas rurais. Entretanto, a pobreza evoluiu de um problema generalizado para um problema que aflige determinadas regiões, grupos e populações, destacando o problema do desenvolvimento regional desigual.
Adesão a Organização Mundial do Comércio (2001)
A entrada da China na organização foi consequência da adaptação de um sistema econômico baseado nos princípios socialistas de economia planejada a um modelo de economia de mercado, assim como a estabilização das suas relações econômicas com os demais países (10).
A China, necessitava da estabilidade e da previsibilidade das regras da OMC para que suas exportações não fossem discriminadas; e os demais membros da OMC, porque necessitavam das suas regras para se protegerem da invasão de produtos chineses pois previam o forte crescimento da economia chinesa e a alta competitividade de seus produtos no mercado internacional. (THORSTENSEN, 2011)
Xi Jinping assume ao poder (2012)
Ao subir ao poder, Xi Jinping prometeu “brandir a espada contra a corrupção”. Como resultado, seu governo foi capaz de julgar e condenar altos funcionários do partido, ocupantes de cargos que jamais haviam enfrentado julgamentos por corrupção.
Em 2020, foi anunciado que a China havia ganhado a sua batalha contra a pobreza absoluta, o país cumpriu os seus objetivos estabelecidos na agenda de desenvolvimento sustentável de 2030 da ONU dez anos antes do prazo.
Xi se tornou um dos líderes mais influentes da China desde a fundação da República Popular, carregando diversos títulos e controle de cargos de alto escalão desde os militares até super comitês de segurança nacional e reforma econômica. Ademais, Xi e seus pensamentos foram adicionados na constituição.
Discurso de comemoração dos 100 anos do partido (2021)
Xi Jinping no seu discurso durante a comemoração dos 100 anos do partido anunciou que o país continuará empenhado na promoção da paz, desenvolvimento, cooperação e benefício mútuo, assim como políticas de paz, e para o caminho do desenvolvimento pacífico.
Também se dirigiu às situações como a de Hong Kong e Macau, afirmando garantir a estabilidade social de ambos, mantendo a prosperidade duradoura das duas regiões administrativas especiais.
Xi, finaliza seu discurso com tom de esperança e prosperidade ao país, buscando incentivar ainda mais o sonho de rejuveneração:
“Há um século, no momento da sua fundação, o Partido Comunista da China tinha pouco mais de 50 membros. Hoje, com mais de 95 milhões de membros em um país de mais de 1,4 bilhão de pessoas, é o maior partido do governo no mundo e aproveitamos de uma enorme influência internacional.
Um século atrás, a China estava em declínio e definhando aos olhos do mundo. Hoje, a imagem que apresenta ao mundo é uma de uma nação próspera que está avançando com ímpeto imparável em direção ao rejuvenescimento.
Ao longo do século passado, o Partido Comunista da China garantiu extraordinárias conquistas históricas em nome do povo. Hoje, é mobilizar e liderar o povo chinês em uma nova jornada para realizar o segundo objetivo centenário.
(…)
Hoje, cem anos depois de sua fundação, o Partido Comunista da China ainda está em seu auge, e permanece tão determinado como nunca para alcançar a grandeza duradoura para a nação chinesa. Olhando para trás no caminho que percorremos e para a jornada que se avizinha, é certo que, com a liderança firme do Partido e a grande unidade do povo chinês de todos os grupos étnicos, alcançaremos o objetivo de construir um grande país socialista moderno em todos os aspectos e cumprir o sonho chinês de rejuvenescimento nacional.” (11)
Futuro do país
De acordo com o South China Morning Post, a China revelou planos para expandir e elevar a nível mundial a qualidade de suas universidades, como parte de seu impulso para criar um setor de ensino superior para apoiar o desenvolvimento econômico do país. O plano emitido listou 147 universidades e mais de 300 de suas disciplinas, entre elas, engenharia e ciências sociais.
Nova roda da seda:
De acordo com o esboço oficial, a iniciativa do Cinturão e Rota visa promover a conectividade dos continentes asiáticos, europeu e africano e seus mares adjacentes, estabelecendo e fortalecendo parcerias entre países ao longo do cinturão. (12)
Autora:
Patrícia T Nacif Cury
Estudante de relações internacionais na Fundação Armando Alvares Penteado
Bibliografia
https://edition.cnn.com/interactive/2021/07/asia/ccp100-intl-hnk-dst/ (1)
https://www.jacobinmag.com/author/steve-smith (2)
THE CAUSES AND EFFECTS OF THE CHINESE CIVIL WAR, 1927-1949 BY JENNIFER LYNN CUCCHISI B.A., PACE UNIVERSITY, NEW YORK CITY, 1997 (3, 4)
https://history.state.gov/milestones/1945-1952/chinese-rev (5)
https://history.state.gov/milestones/1945-1952/chinese-rev (7)
https://www.britannica.com/place/China/Readjustment-and-reaction-1961-65 (9)
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/213933/sa_hlr_me_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y (10)
http://www.cscc.it/upload/doc/SpeechbyXiJinpingataceremonymarkingthecentenaryoftheCPC.pdf (11)
https://www.beltroad-initiative.com/belt-and-road/ (12)
2 respostas em "100 anos do Partido Comunista da China (PCC)"
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Parabéns pelo texto!
Adorei seu texto Patrícia!